Uma amiga minha namorou um cara. Durou quase nada. Coisa de um mês e olhe lá. Ela tava muito disposta a fazer dar certo, ele parecia legal, talentoso, inteligente, mas tinha um negócio muito específico que, com todo o nosso conhecimento em Grey’s Anatomy, nós diagnosticamos como Síndrome de Diego.
O comportamento do Diego em vias gerais era bem legal, mas ele tinha uma mania insuportável de dar opiniões não solicitadas. Era quase um vício. Em qualquer conversa que eles tinham, de repente ele era possuído pelo ritmo ragatanga e dava uma opinião que ninguém pediu. Sem avaliar se era útil. Sem pensar se seria ofensiva. Ele simplesmente vomitava a opinião dele em cima das pessoas.
No começo só causou um estranhamento, porque as opiniões eram bem inofensivas do tipo “nossa, você coloca ketchup no strogonoff? É com molho de tomate que faz” ou “que coragem da sua amiga cortar o cabelo curtinho, né?” ou até “legal esse celular que você comprou, mas eu vi que ele pode explodir enquanto você tá dormindo e te matar”.
A princípio eu tentei ser justa. Podia ser que ele gostasse muito dela e de tão nervoso virasse uma metralhadora de bosta, mas teve um dia específico em que ela, na tentativa de dar uma esquentada naquele relacionamento que nem tinha começado e já tava morto, enviou uma foto sensual. Ele visualizou, esperou um pouquinho e logo respondeu “legal a foto, mas o enquadramento podia estar melhor”. Logo em seguida a gente diagnosticou o rapaz com a tal síndrome e ela desistiu do relacionamento.
Eu sou Diego, tu és Diego, eles são Diego
Eu posso dizer com tranquilidade pra vocês que receber opinião não solicitada é a coisa que eu mais detesto na vida e eu me dei conta só essa semana de que a internet é justamente sobre isso. Parece que todo mundo tem Síndrome de Diego e uma necessidade desesperadora de dar a própria opinião sobre tudo. E daí a gente vive naquela sensação de estar em uma ceia de natal eterna ouvindo parente inconveniente.
Só que, como vocês podem perceber, dar opinião não solicitada é justamente o que eu tenho feito neste blog desde que eu comecei a colaborar. É como se por um karma reverso, eu tivesse decidido reproduzir profissionalmente um comportamento que eu odeio nas outras pessoas.
Pra piorar um pouco a situação, eu moro no Brasil e a gente não consegue ter paz um único segundo, parece que todo dia aparece um infeliz falando asneira na internet, na televisão, no palácio do planalto e tem coisa que fica muito difícil não rebater. Sobe um refluxo incontrolável e quando eu vejo eu já respondi uma discussão que eu não precisava me envolver, me estressei com um problema que eu não posso resolver e ainda ajudei outra pessoa estúpida a se tornar famosa.
Obviamente eu precisei levar esse tema para a terapia e a minha psicóloga (que inclusive lê este blog, beijo!) disse uma frase que mudou a minha vida: o mundo não vai acabar se você não der a sua opinião.
Um soco doeria menos. Eu não sei em que momento egocêntrico da minha existência eu me perdi na personagem e achei que seria a responsável por rebater gente sem noção na internet. Do nada eu simplesmente tava me tornando um Diego digital. Fiscalizadora de conteúdo duvidoso. E tudo isso de graça.
Foi aí que eu parei. Quer dizer, eu confesso que às vezes caio em tentação, digito duas ou três palavras e apago imediatamente quando me lembro que o mundo vai continuar girando sem a minha valiosa opinião.
Como até as gostosas um dia caem na hipocrisia, eu quis me despedir em grande estilo e deixar este ensinamento não solicitado: guerreiras, escolham as suas batalhas, porque a gente já precisa gastar energia demais para sobreviver neste país!
Obrigada por me emprestarem a atenção de vocês durante as últimas segundas feiras e seguimos juntas entre ervilhas, festas juninas e corridas até o ônibus.
Observação: Nenhum Diego foi machucado durante a redação desta crônica.
Recadinho:
Foi muito divertido estar com vocês durante as últimas semanas! Obrigada por interagirem com a gente e deixarem as suas experiências. É bom demais transformar nossas tretas cotidianas em alguma coisa que possa divertir as pessoas. Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu! A gente pode continuar esses papos lá no meu Instagram e se vocês quiserem ler outras coisas escritas por mim, fica aqui a página da Amazon com meus livros a preço de paçoca pra gente manter o clima de festa junina.
Maqui e Karol, foi maravilhoso poder colaborar com vocês depois de tantos anos acompanhando aqui da minha casa. Muito obrigada! E bora ressuscitar a era dos blogs!
Eu comecei o post rindo e terminei assim como você na terapia, levando um soco!! Ameei !!
Carol, fechou com chave de ouro!
Quem nunca foi um pouco Diego na vida que atire a primeira pedra hahaha mas a vida segue, e temos mesmo que escolher nossas batalhas :)
A Carol foi incrível! Queria mais.
Amei suas crônicas!
Amei seus posts!!!
Parabéns!!
Fiquei tão seletiva sobre as coisas que opino que meu twitter tem 4 RTs pra um tweet feito por mim kkkkk realmente essa sindrome de diego é perigosa! O final foi otimo hahahahah
Obrigada pelo “ guerreiras, escolham as suas batalhas…”
Parabéns Carol, até breve!
Amei demais suas crônicas!
Escolha certeira Maqui e Karol
Vou morrer de saudades, socorro!
Eu pensei isso em toda reunião de trabalho: o mundo vai continuar girando sem a minha opinião! Mas tem vezes, que outra voz me diz: “Mas ninguém vai falar nada?”. E nisso, eu “Diego” e me arrependo! Hahaha
Hahahaha eu todinha!
O maior diagnóstico já feito! HAHAHHAAH
Você escreve bem demais, amiga! Parabéns por tudo, pela escrita e pelo seu esforço!
Ahhhh amei a participação da Carol
Carol amei seus texts, saiba que sua partida vai deixar um gostinho de ‘quero mais’.
Já com saudade dos textos de Carol por aqui. Perfeitos, sem defeitos! A batalha pra você continuar é uma das que eu escolheria.
choose your battles é meu lema de
vida!
fica, carol!!!!!!! vai ter boloooooo
Carol, amei seus textos foi muito divertido e gostoso de ler.
Já estou ansiosa para adquirir seus livros no kindle!
Obrigada Karol e Maqui por dar espaço a outras pessoas, está sendo uma experiência muito gostosa do lado de cá como leitora!
PS: Estou amando o retorno do blog.
Levarei para a vida: o mundo não vai acabar se você não der a sua opinião!!
Obrigada, Carol!! Suas crônicas foram incríveis e deliciosas de ler!!
Beijos
É muito sucesso!
Já fui Diego várias vezes na vida, kkkkk.. Tenho me tornado menos. Há tretas que não valem o desgraçamento da cabeça que elas provocam, então é melhor ficar calada….
Também queria mais! Que textos perfeitos :D
Foi maravilhoso, Carol! Vai deixar saudades
QuE TEXTO MARAVILHOSO!!!!!!
Que texto maravilhoso e necessário aaaa adorei!
Meu nome é Melanie e fazem quase 4 meses que eu não dou opinião não solicitada nos posts na internet, saí de todos os grupos tóxicos que eu tinha e não sigo mais nenhum Instagram de fofoca. Seguimos em reabilitação mas até a vida tem sido melhor. Recomendo.
Será que algum dia Diego vai se dar conta da Síndrome do Diego? Reconhecer a Síndrome já é meio caminho andado pra não ser ridículo e ter que escolher perceber que ela existe não tem volta (o que é bom e ruim ao mesmo tempo). Todo dia escolhendo não ser um Diego, amém!!!
Eu fiquei meio anestesiada com “as opiniões que ninguém pediu…” essa semana. Mas, eu ouvi uma coisa em um podcast ” Toda vez que eu for abrir a boca, a minha preocupação não deve ser emitir a minha opinião. Primeiro que opinião não foi feita para ser dada, ela foi feita para ter. Você só dá a sua quando te pedem” e como a sua Psicologa falou o mundo não vai acabar se você não der a sua opinião….
Estou em uma fase de recuperar as minhas energias com os livros.
Oie Carol com C, tudo bem?
Entendo super o conceito de síndrome de Diego no dia-a-dia, é realmente insuportável ter que lidar com opiniões não solicitadas. Mas na internet acho que a relação muda um pouco de perspectiva. Acho que nesse caso as opiniões são muito bem-vindas quando feitas no canal da própria pessoa. A gente escolhe seguir e acompanhar pessoas diferentes justamente por causa de suas opiniões e os comentários torna o ambiente virtual em um lugar colaborativo. Adoro acompanhar as opiniões da Karol e da Maqui, elas me fazem refletir sobre os assuntos de uma outra perspectiva que eu não teria. É só questão de bom senso. Temos que tomar cuidado em não nos posicionarmos, afinal já fomos silenciadas por tempo suficiente. Eu sei que é chato e exaustivo mas conseguimos construir juntas um argumento por vez.
Excelente! Quem nunca…
As vezes ainda me pego me controlando para não opinar.