Eu amo redes sociais e confesso: passo horas e horas rolando meu feed no Instagram e TikTok. Sigo muitas páginas de moda e gosto de acompanhar as fashion weeks mundo afora, saber dos desfiles, tendências e tudo que vai bombar nas próximas estações.
Rolando o feed recentemente, passei por várias referências aos anos 2000, quando eu era apenas uma adolescente que colecionava revistas Capricho. Senti uma nostalgia vendo posts sobre brilhos, gloss, cintura baixa…peraí, cintura baixa?
Tudo bem, a calça não é a vilã do mundo fashion, ela é apenas um produto produzido e comercializado como qualquer outro. O problema está quando enxergamos além da peça e sacamos tudo o que ela traz junto com essa onda de nostalgia.
As cinturas baixíssimas, comprimentos mini, corsets e peças super abertas são referências diretas ao que foram os anos 2000 e, junto disso, voltou à tona a discussão sobre a exaltação de um corpo super magro, o que fez todo mundo pensar: será que superamos mesmo a estética das angels da Victoria’s Secret, mesmo depois de tanto se falar sobre aceitação e diversidade corporal nos últimos anos?
Estamos vendo ressurgir (ou será que nunca sumiu?) um padrão corporal super magro. Até Kim Kardashian, que por anos foi vista como a musa do corpo curvilíneo, aparece publicamente cada vez mais magra, tendo apelado para procedimentos cirúrgicos para retirar medidas que evidenciavam suas curvas e, não, suas irmãs não ficam pra trás!
Nos anos 1990, o padrão estético era ditado pelas supermodels da época, ou seja, mulheres alta e super magras. Isso era vendido em todos os lugares, capas de revistas, programas de televisão e até no que começamos a conhecer como internet. Todas as garotas queriam ser assim. Não preciso explicar o quão problemática foi essa fase, pessoas diferentes têm corpos diferentes e a tentativa de se encaixar nesse padrão estético acarretou em diversos problemas de saúde física e mental para milhões de garotas. Eu mesma me vi vítima e fazia de tudo para ter um corpo super magro e a barriga chapada.
Foi só depois de muita conversa e iniciativas como o “body positive” (positividade corporal) ou o “body neutrality” (neutralidade corporal), o avanço das redes sociais e a democratização de comunidades onde esses assuntos são discutidos, que essa imposição corporal pareceu sair de cena. Mas só PARECEU mesmo.
Um novo tipo de opressão que quem vem sendo discutida nos feeds do Insta e TikTok acontece na indústria do cinema e dos streamings (que historicamente já tem uma má fama quando lembramos dos abusos e imposições com os corpos das atrizes hollywoodianas), onde atrizes consideradas “midsize” são colocadas ao lado de atrizes muito magras, fazendo com que a produção pareça ter algum tipo de representatividade quando, na verdade, não é bem assim. Essa discussão começou quando compararam o corpo da personagem Kat de Euphoria, interpretada pela atriz Barbie Ferreira, próximo a corpos de mulheres que de fato são plus size. Kat passaria perfeitamente com um corpo “midsize”, mas quando colocada junto de um casting com corpos magros, cria-se a ilusão de uma representatividade plus. A mesma situação acontece nos filmes do “Diário de Bridget Jones” onde a atriz Reneé Zellweger, que interpreta a própria Bridget, é todo tempo colocada como uma pessoa plus, sendo que na verdade ela é magra, só não é magra supermodel.
Lentas mudanças
Marcas como Savage x Fenty surgiram com a proposta de criar linhas de roupas e peças de lingerie que abraçam uma grande variedade de corpos e silhuetas. Até mesmo a Victoria’s Secret, que no passado já declarou não ter interesse em vender tamanhos grandes, precisou, para sobreviver, investir em um reposicionamento da marca após entrar em crise e quase decretar falência. Hoje você encontra lingeries até o tamanho XXL nas lojas da marca.
Essa prática de rever o storytelling das marcas e investir em um mercado de peças que contemplem um leque maior de numerações fez parecer que o mercado fashion estava finalmente começando a entender qual caminho seguir, afinal, esse é o futuro que nós queremos pra moda.
Porém, apesar de uma aparente mudança de mercado e uma discussão mais aberta sobre corpos e tamanhos, ainda vemos muita dificuldade. Um exemplo disso foi quando a tão comentada micro saia da Miu Miu – que, além de bem curtinha, ainda tinha a tão temida cintura baixa – foi fotografada no corpo da modelo plus size Paloma Elsesser em uma capa de revista, o que fez todo mundo pensar “nossa, existem tamanhos grandes para atingir esse público também?”. Mas ao ser procurada nas lojas em numerações maiores, descobriu-se que a tal saia foi feita sob medida para a modelo usar na capa e não estaria disponível para venda. Esse é um dos casos mais gritantes de uma falsa representatividade na indústria da moda.
Tudo isso só reforça discursos e imposições sobre nossos corpos, quando emagrecemos somos elogiadas e quando engordamos somos altamente criticadas, quando deveríamos nos sentir parte de um todo e saber que haverá sempre lugar para nós, independente do tamanho do nosso corpo.
Reviver os anos 2000 e toda sua estética com esse ar nostálgico é, sim, uma delícia, mas queremos o lado bom! Passamos por dois anos de pandemia onde looks confortáveis dominaram nossas vidas e agora estamos entrando numa nova era de peças abertas e recortes que evidenciam muito mais nossos corpos e, embora ainda venham em modelagens mais largas, a barriga de fora está muito presente, e sabemos que a única barriga que a sociedade aceita ver sem julgamentos é a magra. Queremos reviver as tendências de moda, sim, tendências de corpo não!
Moda, antes de tudo, precisa ser prazerosa e divertida, um expressão em que você se sinta bem e consiga comunicar sua personalidade e gostos, não algo que cause preocupações, inseguranças e medo. Sim, o processo de estabelecer novos padrões de beleza é demorado e o culto a magreza sempre existiu e ainda vai existir por um bom tempo, mas cabe a nós continuarmos falando, questionando e cobrando uma moda com mais representatividade real.
Que isso heim Carol! Arrasou no post. Informativo, crítico e coerente. Curti, vou procurar os outros pra ler. Essa inciativa de Karol e Maqui em trazer novas mentes pra participar aqui do blog foi um sucesso, dá gosto de ver tanta mina massa escrevendo aqui.
Ai Helena! Muuuuito obrigada!! Fico muito feliz pelo seu comentário e mais feliz ainda por estar curtindo os posts aqui! Fique a vontade para ler todos que tem muita coisa massa rolando
Q post FODA! Carol, q escrita gostosa. Seu tema foi incrível 💙
Obrigada Gabi!! Fico muuuito feliz que tenha gostado, de verdade!