Essa série de posts começou a partir de uma discussão: como nosso gosto é construído coletivamente, ou, melhor dizendo, como a gente gosta de coisas porque os outros gostam. E quando eu falo de gosto, a primeira coisa que me vem na cabeça é comida! Claro que têm muitas coisas que talvez você não goste, mas que a maioria das pessoas ama, ou coisas que muita gente não curte e você adora: ovo, fígado, bacalhau, camarão, cerveja, chocolate amargo…a lista é infinita!
Mas eu não tenho a intenção de abrir uma mega discussão sobre quais comidas as pessoas gostaram ou deixaram de gostar ao longo do tempo, o que eu quero discutir é o ato de comer. Quando foi que a gente deixou de comer só para nutrir o corpo, uma atividade natural e necessária para a sobrevivência, e passou a comer movidos pelo desejo? A resposta exata não existe, mas uma coisa é certa: isso só foi possível quando a sociedade desenvolveu formas de conservação dos alimentos, de manutenção do plantio e da colheita e da criação de animais. Mas ok, isso tudo é muito técnico, o que eu quero saber é: como a gente passa a desejar comer algo?
Como já comentei nos meus outros posts, faz um bom tempo que somos orientados pela influência. Não to falando aqui da influência digital, essa sim uma novidade recente, mas pessoas são influenciadas desde sempre por seus amigos e familiares, pela publicidade e também por pessoas “públicas” (detesto essa expressão! Nenhum ser humano é público, né?). Onde a comida entra nisso? É comum a gente decidir ir a um restaurante ou comprar um salgadinho no supermercado porque alguém que conhecemos provou e aprovou antes. Às vezes, faz muito sentido esperar essa indicação pra decidir se vale ou não investir nossa grana, né? Alô crítica gastronômica em 30 segundos! haha
Com o surgimento da profissão influencers, pessoas “comuns” passaram a compartilhar sua intimidade, ficando bem próximas do público (também pessoas “comuns”), que passou a ver que era possível compartilhar das mesmas experiências. Difícil lembrar como as dicas chegavam até a gente antes da internet, né? Mas essa fórmula não é novidade.
No início do século XX, as colunas de jornal podiam fazer o sucesso de um estabelecimento ou levá-lo a falência. Sério! Mas não eram só as propagandas tradicionais e resenhas de jornalistas que faziam um lugar bombar. O boca a boca também era importantíssimo. As dicas chegavam nas pessoas da forma mais analógica possível! Foi nessa época que comer fora de casa virou lazer, diversão, sociabilidade e também distinção social. O ambiente que você frequentava dizia muito sobre você e ser visto em determinados lugares era mais interessante socialmente do que em outros. Status sempre foi status!
De volta para o futuro
Se a gente caminhar por São Paulo, consegue ainda passear por esses outros tempos. A Mercearia Godinho, que mostrei aqui no meu primeiro post, é só um dos exemplos. Na Rua São Bento, o Café Girondino recriou a atmosfera dos anos 1920 e transporta os clientes direto pra lá assim que passam pela porta. Alguém aí já foi?
Já a Padaria Santa Tereza existe desde 1872 (!!) e, mesmo em outro endereço, ainda é possível morder a tradicional coxa creme e sentir um gostinho do passado.
No começo dos anos 1900, também já existiam muitos bares e restaurantes pela cidade: Sportsman, Harrison&Morris, Brasserie Paulista, Casa Spainer. Nomes chiques e cardápios em inglês! haha
A Confeitaria Alemã, a Confeitaria Suissa e o Restaurante e Salão de Chá do Mappin (primeira foto do post!) também eram bem frequentados e vendiam de tudo: sanduíches, tortas, bolos, e tinham até delivery e take away. Juro!
O Belvedere Trianon, um espaço para ver a cidade do alto, tinha restaurante e confeitaria, e ficava onde hoje está construído o MASP. Dava para ver o Vale do Anhangabaú de lá, acreditam?
A Sorveteria Alaska, que ficava no bairro Paraíso, fechou em 2019 depois de mais de 100 anos aberta! As montanhas de sorvete muito bem servidas eram a marca registrada da, até então, sorveteria mais antiga de São Paulo. Qual será a mais antiga agora?
House party
Receber os amigos em casa também fazia parte da construção do gosto por refeições não só gostosas, mas também bonitas. Se já não fosse bastante cuidar dos filhos, da casa e da carreira de trabalho, as mulheres precisaram aprender a receber, a cozinhar para ocasiões especiais e a montar mesas belíssimas.
A “mesa posta”, que hoje em dia aparece nos nossos feeds, sempre foi sinônimo de um lar bem cuidado, mas era nas revistas femininas que as mulheres pegavam as melhores dicas. O Pinterest delas era impresso! haha Nas matérias: tutoriais de como dobrar guardanapos ou receitas com ingredientes especiais.
Comida como entretenimento
Não é à toa que programas de TV como o Masterchef fazem tanto sucesso. Tirar grandes chefs da cozinha e botar na frente das câmeras gera desejo e curiosidade pelos pratos que eles fazem, afinal, todo mundo quer comer bem! Uma pessoa que está no ar julgando o que é comida boa, deve saber do que está falando, né? O novo (e 4x maior!) restaurante Arturito, da chef e ex jurada do reality Paola Carosella, só abre em 2023, mas já tem fila de espera!
Outra fórmula que funciona: associar a comida à pessoas em quem o público confia! E, olha, nesse caso, o rango nem precisa ser espetacular! haha Restaurantes que dão nome de artistas e influencers aos seus pratos acumulam filas e mais filas: é a construção social do gosto exemplificada perfeitamente!
Nessas quatro semanas, quis trazer pra vocês um pouco do olhar de uma historiadora sobre atitudes comuns, cotidianas, banais: das rotinas de skincare, passando pela moda e a forma como comemos, minha ideia era mostrar que consumir por influência é coisa de outros séculos! Vocês curtiram? Muito obrigada Maqui e Karol pelo espaço, e muito obrigada a todos que me acompanharam nesses últimos posts! Adorei ler cada um dos comentários e ver que mais gente se interessa pelo passado assim como eu!
Eu fico só aqui pensando: que legal que vai ser pra Luiza no futuro lembrar dessa experiência que foi escrever pro blog da Karol e da Maqui. 🤗 Foi muito bom ter você por aqui, Ana Luiza! Parabéns pelos textos. 💗
Oie Paula!! Super obrigada! Foi uma experiência muito massa pra mim! :)
Precisei comentar novamente.. 😂 Essa publicação de crítica gastronomica do restaurante me lembrou o filme Ratatouille. Confesso que deu um quentinho no coração. ♥️
Adorei te ver por aqui, Ana. Os assuntos, a abordagem escolhida, o seu olhar. 😘
Obrigada!!! Fico bem feliz! :)
Que delícia de texto, Ana! Adorei viajar um pouquinho pelo passado com você.
Arrasou demaaaaais! Parabéns ♡
Parabens pelo texto! Achei muito interessante a abordagem
Parabéns, Ana Luiza! Posts impecáveis, bem construídos e super interessantes!! Adorei a experiência!!! 👏🏽👏🏽👏🏽
Que bacana seus textos Ana adorei descobrir/conhecer mais sobre a influência nas coisas que consumo e a relação com o passado e sociedade, muito obrigada por isso!
E muito obrigada Karol e Maqui por dar essa oportunidade para pessoas “não públicas” para que possamos conhecer outros lados, adorei e acho que foi uma baita experiência para a Ana também!
VOCÊ ARRASOOOOOU ANA SUCESSO <3
Foi mesmo, Julia!! Obrigada por ter acompanhado!! <3
Parabéns pelos posts Ana Luiza! Adorei ver essas questões banais pela sua perspectiva <3
Muitos Parabéns Ana Luiza, que incríveis todos os seus posts!
Que bom que a Karol e a Maqui abriram este espaço para que outras pessoas pudessem partilhar coisas diferentes.
Foi uma primeira participação maravilhosa!!!
Obrigada Ana Luiza! Como é bom voltar a ter o prazer de ler de novo aqui pela internet, sua escrita me chamou muito atenção, leve, divertida, engraçada. Gostaria de ver mais conteúdos seus nesse formato aqui. Já tenho quase meio século de vida e acompanho as meninas já faz muito tempo, saudade de vir na net ler bons textos.
Que recebemos influência de todos os lugares sobre como e com o quê se alimentar, isso é fato, mas adorei saber como era antigamente e sobre os lugares famosos que bombavam antigamente.
Aliás, sobre isso, fiquei triste de saber sobre a sorveteria que fechou depois de mais de 100 anos de funcionamento. Quanta história naquele lugar que agora está de portas fechadas :(
Adorei, muito bons mesmo TODOS os posts, arrasou demais Ana Luiza! ♥
Beijos,
Livro de Memórias
Imagina o D. Picolino visitando o Paris 6, não ia sobrar uma profissão pra ele seguindo a lógic do artigo que ele escreveu kkkk
HAHAHAHAHA
Esse negócio de cama-posta e mesa-posta me pegou no início. Casei recentemente, de repente o instagram só me mandava esse tipo de conteúdo e fiquei meses pensando que talvez agora, como uma mulher casada eu deveria fazer esse tipo de coisa além de trabalhar fora de casa. Meu marido, que trabalha de home office, estava fazendo atividades de casa muito mais do que eu, e comecei a me sentir culpada por talvez não estar fazendo o suficiente. Mas um belo dia tive um vislumbre que todo esse meu sentimento era a sociedade colocando uma pressão em mim que nem sentido faz. Seguir as pessoas certas nas redes sociais faz a diferença em o que você coloca na sua cabeça, e nesse aspecto créditos à quem me fez perceber esse tipo de coisa: Maqui, Camila Fremder, Tati Bernardi. Eu não preciso deixar a cama bonita, ou a mesa bonita pra provar nada pra ninguém, devo fazer apenas se me fizer pessoalmente feliz. Então decidi não fazer. E tudo bem meu marido fazer mais do que eu faço, se ele tem mais tempo, contanto que eu não seja uma folgada e deixe ele sobrecarregado ta tudo bem – se não eu estarei agindo como meu pai age com minha mãe e como a maioria dos homens agem e ninguém nem liga nem fala nada a respeito (na vida real com minha família né, na minha bolha do instagram todo mundo liga e fala a respeito).
certa!!!
Perfeito!
Amei os posts da Ana Luíza! Bem que vocês poderiam manter uma coluna fixa dela né? Ia ser tudo de bom!
Parabéns Maqui e Karol pela iniciativa de revelar novos talentos!
Bjo 😗
Amei todo o seu conteúdo, seu texto e maneira de escrever! Foi mta aula nesse mês, tudoooo!!!
Nossa que delícia de post <3
Conteúdo, História e reflexão sobre nossos costumes. Sua série de posts foi incrível Ana!
Njfhsjdwkdjwfh jiwkdwidwhidjwi jiwkdowfiehgejikdoswfiw https://gehddijiwfugwdjaidheufeduhwdwhduhdwudw.com/fjhdjwksdehfjhejdsdefhe
Caramba!
Comecei a ler o seu texto e pensei: esse texto tem cara de historiadora.
Como eu sei disso? Porque também sou uma e não sabia que éramos colegas até chegar ao final do texto e dar um sorriso com a confirmação das minhas suposições.
Artigo sensacional. Adorei!