Em algum momento da vida nós já reclamamos da nossa rotina. Me relaciono com a minha em um misto de amor e ódio. Ao mesmo tempo que estou na minha zona de conforto, queria estar vivenciando novas experiências. E às vezes, quando vivo novas experiências, sinto falta da calmaria da rotina. Mas de uns anos pra cá, tenho tido uma outra percepção sobre o dia a dia rotineiro.
Como disse no post anterior, cresci assistindo Disney e afins. Filmes com plot twists dignos de efeitos especiais, magias e mudanças radicais. Tinha dias em que eu só esperava minha vó vir de Genovia e minha vida mudar da água para o vinho de uma hora pra outra! Não sei se vem daí nosso desejo por mudanças ou se há explicação mais filosófica pra isso – com certeza deve ter – mas foi crescendo que percebi que viver o real é mais válido! O filme Paterson é uma mistura disso. Vocês já assistiram? Tem no Amazon Prime Video.
Do cotidiano, do que muitas vezes é sem graça para nós, pois já nos acostumamos com a nossa história, com o lugar onde crescemos e vivemos, com os trajetos que fazemos diariamente, com as pessoas que cruzamos quase sempre, sem ao menos saber seus nomes.
A história é de Paterson (interpretado por Adam Driver, não tem como ser ruim), um motorista de ônibus que escreve poemas e vive numa cidade com seu nome: Paterson. O mais bacana de tudo é que ele é um poeta que, através das histórias que encontra – seja caminhando até o seu trabalho, vendo uma placa na rua, uma pessoa no ponto de ônibus ou conversando com os passageiros enquanto dirige – tira material para sua escrita. O filme é sobre o que, às vezes, mais reclamamos: a rotina. Se estamos acostumados com roteiros clássicos com pontos de virada para algo extraordinário, Paterson subverte e traz a beleza do ordinário. E me leva a pensar que já perdi muitas coisas reais buscando o fantástico inexistente.
Crescer é bom
Tem processos e percepções que só vem com a maturidade, não tem jeito. Ainda mais se você cresce tendo como referências produções hollywoodianas. Nada contra, até hoje eu ainda me desligo do mundo e abraço meus comfort movies. Mas a diferença é que agora é intencional, eu sei o que estou fazendo. Eu realmente quero me desligar do mundo real durante algumas horas e aí mergulho nessas produções. Mas viver uma vida correndo atrás de vivências que estão muito além do que temos no agora é o que me faz pensar no tanto que a vida passou e muitas coisas eu não percebi. Tudo isso buscando um ideal que nem criado por nós mesmos foi! E a partir daí surgem todos os questionamentos: quais tem sido os meus sonhos? Será que são meus mesmo? O que eu tenho valorizado? O que para mim agora é palpável? E o que tem passado despercebido?
Descobri que a satisfação vem quando entendo o que é bom para minha vida, o que me deixa saudável, em todos os sentidos. Não necessariamente será o mesmo para você que me lê, talvez considere até insignificante, mas aí está a beleza da vida. Ela é plural! Para mim, a beleza está em escrever, descobrir músicas, ler um livro numa cafeteria que gosto, andar de bicicleta, dedicar tempo ao próximo, conseguir enxergar beleza no simples, observar a mesma árvore que vejo no caminho da faculdade ou do trabalho…ou uma praça, uma pessoa, não sei. Só sei que a vida tá cheia de coisas para se admirar e refletir, mas a ânsia por coisas impalpáveis muitas vezes não nos deixa perceber.
Uma personagem que caracteriza bem isso que escrevo é a esposa de Paterson, Laura (Golshifteh Farahani). Ela sonha com a fama, tanto dela quanto do marido, mas ao mesmo tempo curte o processo que ela acredita que a levará ao estrelato. Talvez não tenha rolado a fama tão sonhada de Laura, o filme não tem a pretensão de mostrar isso, mas curtir o processo diz mais sobre sua vida do que a própria fama almejada. No fim, não é o resultado que trará a significação que precisamos, mas o propósito, o que te motiva a querer chegar no tal resultado. Isso diz sobre quem nós somos. Por que escolhemos tal profissão? Por que repetimos diariamente os mesmos gestos, as mesmas inclinações para algo? O conjunto do processo somos nós. O resultado é só resultado e, muitas vezes, nem justo é, se compararmos com o esforço que dedicamos.
A felicidade e realização não estão tão distantes e a vida não é feita só de momentos felizes para sempre. A vida entra na rotina e tudo bem! O que Paterson me ensinou, é que coisas básicas podem me satisfazer e não importa o quanto aquilo se torne rotina durante uma semana, um mês, uma vida…se eu vejo seu valor e não deixo a beleza se perder nas vivências diárias, essas coisas se mantém importante para mim.
E assim, falando sobre a vida e suas belezas, me despeço da minha estadia durante esse mês no Blog. Amei ocupar esse lugar para expressar meus pensamentos e, de quebra, ganhar essa troca com vocês. A vida tem sua rotina, mas também suas surpresas, e estar aqui foi uma delas. Bjs 🧡
Já coloquei na minha lista pra assistir esse final de semana de frio em SP. A maternidade me ensinou muito sobre amar o cotidiano e ver a beleza da rotina, repetição, enfim… <3
Nunca tinha ouvido falar sobre esse filme, confesso que também vivo um eterno e amor e ódio sobre a rotinhas.
Amei o texto, mulher! Precisava dele hoje!
Que satisfação ler um post tão bem escrito!
Eu me relacionei demais com o que escreveu e já coloquei o filme na minha lista para assistir em breve.
Esse texto transmitiu muito do que eu penso. A vida é mais do que esperar pelo final de semana, e existe beleza em todo lugar que passamos, mas infelizmente as vezes estamos tão absortos, preocupados com problemas, que não reparamos.
Recomendo sobre esse tema o filme “Questão de tempo” e o livro “a biblioteca da meia noite”.
Eu amei a indicação e esse convite a reflexão sobre a vida e nossos anseios por sair da rotina o tempo todo! E fiquei curiosa pra assistir principalmente pelo tanto de estampa preta e branca com bolinha kkkkkk
Texto lindo, simples e necessário! Vou ver o filme indicado!
Que delicia de escrita Dani…De aquecer o coração, Como é bom encontrar a paz e o prazer no ordinário de nossas vidas…Libertador, nos tira da prisão de precisar ser fantásticos e inovadores em todos os momentos, nos permitindo ser felizes apenas por ser comum…