Oie, eu sou a Dani Klem e farei este blog de Airbnb neste mês de agosto. Ou seja, o blog é meu! – não podia deixar passar a oportunidade de escrever isso. Estarei aqui com vocês compartilhando, através de textos, meus pensamentos, sentimentos e coisas desse mundão que me atravessam. Sou fotógrafa, estudante de cinema e amante da escrita. Crio coisas na minha cabeça – além de paranóias – e acho que dariam um filme; pareço distraída, mas tô escutando suas conversas na rua; e espero que curtam e sejam tocados, de alguma forma, durante minha estadia temporária por aqui. 😊
Robyn Brooks, essa é apenas mais uma de amor, mas não é sobre você… Nada me interessa tanto quanto conhecer as potencialidades do ser humano. Tenho dentro de mim a crença – um tanto utópica, talvez alguns diriam – de que nascemos com aptidão para algo que nosso coração implora exercer. Às vezes só não sabemos reconhecer ou ter espaços com recursos suficientes para desenvolver essa aptidão. Um desses recursos que considero essencial é o acolhimento.
Esse insight veio através da trágica ideia que tive de assistir a série High Fidelity (Starzplay ou Globoplay). Alguém aí também assistiu? Tendo Nova York como pano de fundo, ela conta a história de Robyn Brook (Zoe Kravitz), uma jovem adulta, dona de uma loja de discos, que avalia seus últimos 5 relacionamentos. Terminei num dia os dez episódios sem saber que a bendita não havia sido renovada. Um tanto suicida, eu sei. Estou há dias necessitando de mais informações sobre Cherise (interpretada pela incrível Da’Vine Joy Randolph) — amiga de Rob, funcionária da Championship Vinyl (a loja de disco, e, sim, você já ouviu falar nela antes, a série é inspirada no filme com mesmo nome) e que, de modo subjetivo, vai ganhando espaço na narrativa com seu jeito único, irreverente e carismático. Brooks até ganhou toda minha atenção com seus looks envoltos em drama e sua vida boêmia nova iorquina. Mas queria mesmo era mergulhar fundo na vida de Cherise. O que a impedia tanto de exercer a sua potencialidade?
A realização de Cherise estava baseada não apenas em cantar, mas em conseguir construir um arranjo que fizesse jus às referências fantásticas que a rodeavam. Stevie Wonder, Aretha Franklin, Kanye West, James Brown, Prince…Dona de um dos melhores tops 5 musicais de situações adversas, Cherise é a mulher que respira e exala musicalidade. E, para ela, não bastava apenas saber sobre e apreciar a arte. A música precisava ser parida por suas cordas vocais, seu coração e seus dedos.
Era a maneira como suas emoções reprimidas e seus pensamentos mais profundos seriam postos para fora, como num vômito musical. Era a forma mais completa de ser Cherise. E, por isso, há uma grande falta: só conseguimos captar sua alma escondida atrás da pose sempre na defensiva em breves segundos no final session. Mas Cherise é grandiosa demais para apenas alguns segundos. Confesso, foram os segundos mais desejados por mim em toda a série. É a vulnerabilidade na sua mais bela forma, na plenitude do que diz ser humano. Cherise prometia que uma hora entregaria seu eu, mas alguns fatores a impediam, assim construindo seu silenciamento.
Me reconheço em Cherise. Em saber que há tanta riqueza que eu poderia pôr para fora. Eu me encanto com meus próprios talentos, com minha sensibilidade, e não é uma questão de ego, é, simplesmente, apreciar o que há de bom em mim. Externalizar isso é um processo complexo. Há uma paralisação seguida de dúvida, que logo se transforma em descrença, e aí vem a sensação de que falta algo para chegar lá. Mas lá aonde? Cherise é uma mulher negra retinta, o que significa que precisou ela mesma, por conta própria, se entender como uma mulher incrível, o que de fato ela é, não há dúvidas. Mas ninguém chegou para afirmá-la sobre isso. A série não conta, mas sabemos que ali o processo foi de dentro para fora.
Ao mesmo tempo, Cherise entende que, para entregar algo notável aos outros, precisaria chegar de braços dados com a excelência. E é aí que está o cerne da coisa. Mulheres negras são constantemente ensinadas que o “chegar lá” só acontece com a excelência na primeira tentativa. Não temos espaço para a falha. O que resulta no medo de errar que, consequentemente, gera a paralisação. E o que era tão nós, torna-se um emaranhado de outros que não nos distingue. Nos perdemos na tentativa de acertar. Por isso, o recurso essencial sempre será o acolhimento.
A Cherise do meu multiverso, com o acolhimento devido, roubaria a cena da protagonista dessa série. Eu passaria os dez episódios assistindo as camadas de Cherise. Cherise, Cherise, Cherise. Porque consigo enxergar sua potencialidade em suas multiformas. E encontra-se aí um dos meus talentos: observar alguém e conseguir visualizar o tanto que ela é capaz. Cherise é apenas uma personagem de série, mas ela está viva em tantas mulheres que nos cercam. Hoje, ando na rua tentando encontrar uma Cherise que eu possa abraçar. Abrace você também a Cherise que existe aí perto e veja o quão transformador isso será.
Finalizo, assim como Cherise em sua entrega, pegando emprestado as palavras de Stevie Wonder em I Believe e fazendo uma pequena adaptação: “as visões que nossos olhos contemplam irão abrir nossos corações em fusão e alimentar nossas almas (não) vazias”.
Semana que vem volto com mais! 😉
Fiquei tão feliz em ver alguém que conheço (da faculdade) escrevendo aqui!! Amei o texto <3
Que texto foda! Já vou procurar a série.
Amei muito o texto!! Dani arrasando já na estreia!!!
Fiquei com vontade de assistir a série!
Que post foooda, amei o texto e já quero assistir a série. Já estou ansiosa pelo próximo texto Dani :)
Amei o texto. Fico na dúvida agora se me torturo em começar um série boa que não foi renovada…
Que sensibilidade, que ótica! 👏🏻👏🏻
Lindo texto, amei!
Que texto lindo <3 Obrigada por compartilhar e colocar em palavras aquilo vivo mas não sei bem como explicar.
Essa série mexeu comigo em tantos pontos (tornou-se uma obsessão), mas agora essa experiência ficou ainda mais rica com o seu olhar. Obrigada :)
Rolou forte a minha identificação com suas palavras ❤️
Que texto incrível. Parabéns, Dani!
♡
Que texto incrível! Obviamente já quero assistir a série :)