Encarar a escola já era difícil quando o meu maior problema estava no fato de ter que acordar cedo e passar o dia sem parecer um zumbi recém- saído de um filme de terror. Mas agora… Os passos no corredor até chegar na sala de aula, a hora do intervalo, os passos no corredor até chegar na saída… eu era a versão zumbi mais perfeita já encenada por um ser humano ainda em vida. Era capaz de qualquer coisa para passar despercebida e nunca, jamais, em hipótese  alguma cruzar com a Camila ou o Bruno. Decidi encerrar esse capítulo em que meu namorado engravida minha melhor amiga com um grande FIM escrito em caixa alta no livro da minha vida.

Ainda com a lição de química aberta na página da aula de hoje (algo sobre a destilação fracionada e os diferentes pontos de ebulição), levantei da cadeira sem pensar duas vezes quando ouvi o sinal tocar. Era hora de ir pra casa e andar em território livre sem me preocupar com quem cruzaria o meu caminho.

Amarrei o cabelo num coque alto e bem desarrumado, tirei o resto de batom vermelho com os dedos mesmo, coloquei o fone de ouvido e programei o iPod pra tocar Demi no volume máximo. Livre. Era assim que eu me sentia desde então todos os dias ao sair do colégio. Ainda bem que o ano estava acabando e logo eu iria pra faculdade. Ou pro intercâmbio. Tanto faz! Fato é: estaria longe da escola e das lembranças que me assombravam.

Senti o vento bater em meu rosto e caminhei cantando alto. Dane-se, não devo nada pra ninguém. Percebi olhares estranhos em minha direção, mas continuei mesmo assim. Livre. Os olhares foram ficando mais estranhos, estavam apontando pra mim. Um senhor tentou falar alguma coisa, ignorei. Andei sem olhar para trás até que senti um toque com movimento rápido no lado direito do meu ombro. Virei pronta pra gritar algo bem mal educado quando me dei conta: era ele.

“Caramba, Chris, estou igual louco gritando seu nome no meio da rua e você nem pra parar 5 minutos?”

Tirei o fone de ouvido e permaneci muda.

“Ah, você estava ouvindo música! Tentei falar com você todos esses dias desde que nos encontramos no café. Acho que anotei seu número errado e, bom, você não aceitou minha solicitação de amizade no Facebook. Sei que isso foi um perdido mas como já pensei num layout pro seu blog e estou com parte dele salvo aqui no celular, fiquei feliz ao te ver passar.”

Porque? Porque eu resolvi que deveria ignorar minhas redes sociais durante esse período ruim? O Rafa tentou contato e, mesmo sem conseguir, pensou num tema para o blog que ele mesmo sugeriu que eu fizesse.

Primeiro pensei em continuar andando para espantar aquilo que só podia ser mais uma alucinação do meu cérebro louco. Depois, imaginei como seria bom me atirar nos braços dele. Mas eu apenas sorri e ri de nervoso quando ele apontou para minha boca e perguntou:

“Andou beijando alguém? Seu batom está todo borrado!”

Eu não era um zumbi, era uma idiota!

Qual é a decisão de Chris?